A multiplicação das casas inteligentes

FORTALEZA, 10 de novembro de 2003 - Cerca de 900 projetos imobiliários em andamento no País já incorporam novas soluções tecnológicas. Nesse início de década, o conceito de casa inteligente - que incorpora uma série de equipamentos de automação - passou a ser um imperativo em alguns projetos imobiliários no Brasil. E o mercado para esses sistemas tem um potencial de crescimento expressivo, com tendência de queda acentuada nos preços dos sistemas eletrônicos à medida em que essa indústria ganhe escala, avalia o engenheiro José Roberto Muratori, presidente da Associação Brasileira de Automação Residencial (Aureside).
Nas contas da associação, o mercado para automação residencial no País se aproxima de 1,1 milhão de unidades - que abrigariam 4% dos 71,1 milhões de brasileiros com mais de 24 anos e de alto poder aquisitivo (classes A e B). Segundo levantamento da Aureside, além de dispor de dinheiro, essas pessoas já têm intimidade com modernas tecnologias e, portanto, estariam propensas a aderir aos sistemas, seja com o intuito de conferir mais segurança, praticidade ou conforto aos lares.

De acordo com o levantamento, nas nove principais regiões metropolitanas brasileiras cerca de 29% dos lares são habitados pelas classes A e B - índice que chega a 34% em São Paulo e 35% em Brasília. Nessas áreas, 80% dos domicílios são casas, o que explica a elevada demanda, por exemplo, por equipamentos que garantam maior segurança. A pesquisa revela que esse item é considerado prioritário para 58% das casas. No caso dos apartamentos, o percentual é de 42%.

Nos dois tipos de habitação a segunda questão mais importante é o entretenimento - sistemas integrados de áudio, vídeo e games via internet, televisão digital e interativa. Outra preocupação latente, tanto em casas como em apartamentos, é com a montagem de uma estrutura adequada para trabalho residencial, o chamado "home office", que geralmente requer acesso de banda larga à internet, soluções "wireless" (sem fio) e até sistemas de "e-learning" (ensino à distância) ou videoconferência.

Em termos de conforto e praticidade, há sistemas disponíveis para automatizar - e controlar à distância, por telefone ou computador - a iluminação e ventilação das residências, acionar eletrodomésticos, monitorar interiores, irrigar o jardim, limpar a piscina, aquecer a banheira ou ordenar a "aspiração central a vácuo" da poeira da casa. De acordo com Muratori, é uma equívoco pensar que essas tecnologias estão distantes e inacessíveis.

"A automação antes era associada somente a grandes edifícios. Mas muitas dessas tecnologias já estão incorporadas a vários projetos residenciais em cidades das regiões Sul e Sudeste", afirma o presidente da Aureside. Nas estimativas da associação, em 1999 somaram 100 os empreendimentos imobiliários integrando projeto com a venda de produtos de automação. Este ano, a expectativa é de que o número de construções do tipo se aproxime dos 900.

"Ainda que o cliente não se manifeste sobre o desejo de ter sistemas automatizados, já existe o entendimento entre os incorporadores imobiliários que os projeto precisam levar em conta essa demanda futura. É sensato, pelo menos, deixar pronta a estrutura nas paredes para conexões e pontos elétricos, que representam custo ínfimo na construção", afirma Muratori. Segundo ele, atualmente os sistemas de automação incluem pacotes tecnológicos que vão de R$ 3 mil a R$ 30 mil.

O arquiteto Mauro Munhoz, com escritório na cidade de São Paulo, diz que em muitos projetos que realiza é o próprio cliente que solicita a inclusão de sistemas de automação. "Porém, independente da iniciativa dos clientes, creio que hoje em dia é obrigação dos profissionais incluir o conceito de automação residencial em todos os projetos, mesmo naqueles considerados mais simples. É mito pensar em casa inteligente apenas como coisa do futuro", diz.

Munhoz se filia à corrente dos profissionais da área que acreditam na queda do preço dos produtos de automação com a crescente disseminação desses sistemas no País. "Na prática, o preço de vários desses equipamentos já caiu bastante. Há alguns anos, por exemplo, os alarmes eram raros, e hoje são um item comum nos automóveis e nas residências", afirma.

Projeto inovador

No bairro do Itaim Bibi, na cidade de São Paulo, a construtora alagoana Cipesa Engenharia está lançando um edifício residencial, o Brazilian Art, considerado símbolo do conceito de casa inteligente. A fechadura da entrada principal dos apartamentos, por exemplo, possui identificador de impressão digital. Para reforçar a segurança, há um sistema integrado de monitoramento e alarme à distância, por imagens, fotos e gravação.

A garagem, por sua vez, é equipada com dispositivo sonoro para auxiliar manobras de estacionamento. Entre outras comodidades, os apartamentos possuem sistemas de aquecimento do piso dos banheiros, chuveiro digital, banheira que pode ser acionada por telefone ou ainda sistema central de aspiração de pó e ácaros. O empreendimento também conta com cabeamento para transmissão de dados, voz e imagem e estrutura para trabalhar com comunicações a cabo ou fibra ótica.

O engenheiro Edson Martinho, coordenador de projetos do Instituto Brasileiro do Cobre (Procobre), alerta, entretanto, que o conceito de a automação não é sinônimo - ou privilégio - de projetos requintados, de luxo. "Isso não corresponde à realidade. A automação pode ser aplicada em diversos níveis em e em qualquer tipo de construção", afirma. Segundo ele, o mercado para esses equipamentos vem crescendo entre 30% e 40% nos últimos anos e tem fôlego para manter essa desempenho, pelo menos, até 2007.

(Darlan Moreira - Gazeta Mercantil)