O Chalé de 80m2 abriga apenas o essencial

A casa se expande como um vagão de trem estacionado no meio da mata.

Embora reverencie a genialidade de muitos mestres, o jovem arquiteto paulista Mauro Munhoz revela em seus conceitos, na sua biblioteca e até no próprio traço a influência decisiva de Frank Lloyd Wright. Sorte nossa, que podemos admirar concepções como a desse chalé de 80 m2, em uma amplachácara de Campos do Jordão, SP, que nos remete à famosa Casa Robie, erguida pelo arquiteto norte-americano na Chicago do início do século. Sorte maior dos proprietários, que podem desfrutrar de um recanto personalizado pelo talento de Mauro e de seu sócio Francisco Soares, onde um único volume longilíneo abriga apenas o essencial.

Como um vagão de trem, dividido em suíte e estar ligado à pequena copa, o chalé se integra visualmente à casa-sede da chácara - uma construçào típica dos idos da implantação da estrada de ferro, que mescla o estilo inglês à obra dos capomastri (mestres-de-obras italianos). No entanto, a integração mais almejada foi com a natureza, pressentida em cada detalhe do projeto, que busca reproduzir a mesma harmonia observada entre os elementos da mata ao redor do chalé.

 

Os vigamentos horizontal e vertical se fundem
para proteger a madeira

O arquiteto se baseia nos princípios de compressão ou sustentação, representado pelos blocos de tijolos, e o da tração ou expansão, representado pelas vigas de madeira e de ferro.

A estrutura do chalé, por sua vez, foi toda calcada num eixo central com três pilares de tijolos (a chamine da lareira e duas extremidades), sustentando as delgadas vigas metálicas que apóiam a cobertura. Esses perfis de metal percorrem as laterais da construção de forma aparente nos interiores e embutida no beiral, onde o pé-direito diminui.

Por se tratar de uma casa planejada, os custos da obra foram bastante reduzidos, bem como o tempo de construção (cerca de seis meses). O toque original e sofisticado fica mesmo por conta do desenho e dos recursos arquitetônicos, sempre muito engenhosos. Em função dos desníveis do terreno, por exemplo a implantação do chalé privilegia a privacidade e a insolação, já que o beiral de sua face nordeste foi projetado com largura reduzida para receber sol abundante. A luz inunda os interiores através das janelas dispostas entre as paredes e a cobertura que, assim, nunca se encontram. Essas aberturas recebem pequenos vidros divididos em caixilhos de metal em estrutura de madeira, que deixam a paisagem exposta.

O calor do sol se mantém na casa graças um minucioso tratamento das paredes de tijolos para também conservar energia. Outro recurso para aquecer os ambientes é a lareira, que garante a atmosfera que se espera de um chalé nas montanhas.

 

Simplicidade nos materiais, sofisticação no traço
e engenho nas soluções

Com pé-direito mais baixo, o beiral agora embute a viga metálica que alça vôo no balanço da varanda, antes aparente nos ambientes de maior altura.

As paredes recebem acabamento interno e externo em madeira: duas chapas de compensado, isolante térmico em lã de vidro, barreira de vapor em lona plástica e espaçador. Além do perfil de madeira que faz o ar circular, evitando a umidade.

Elaborados para este projeto, os caixilhos de metal delgado em estrutura de madeira trazem luz e deixam a paisagem exposta.